Segunda-feira, 24 de junho de 2019
Se diversas são as culturas que se pode produzir no campo, diversas são também as histórias que fazem de alguém um agricultor. Alguns nascem e permanecem na propriedade. Outros saem porteira afora, a buscar experiência em andanças pelo mundo. Com esta trajetória, um italiano da Calábria que viveu na França, no México e adotou o Brasil como país, afirma ter encontrado, numa cultura tradicional, o caminho para se reconectar com seu passado rural. Em entrevista dia 16 de maio, em sua chácara no distrito de Guairacá, em Guarapuava, o professor Luigi Chiaro contou à REVISTA DO PRODUTOR RURAL, como a descoberta do milho crioulo o está conduzindo a se redescobrir como produtor.
Filho de família de agricultores, numa região da Itália onde predominam as oliveiras e os cítricos, formado em filosofia e teologia, tendo se ordenado padre (ofício que mais tarde deixaria, sem abandonar sua fé), ele relatou que o início do cultivo, em 2018, coincide com sua idéia de tecnificar a propriedade numa visão de sustentabilidade. No local, que já abrigou avicultura e bovinocultura de corte, e onde desde 2015 se dedica à produção leiteira com 20 animais das raças holandesa e jersey, o professor explica que sua intenção é verificar a viabilidade de utilizar o milho crioulo para silagem.
Chiaro lembrou que para conhecer o material semeou uma primeira área, de 20 m por 20 m, com o cuidado de situá-la longe da possibilidade de cruzamento com outros milhos próximos. “Foi praticamente um campo experimental. A técnica que usei foi plantar em fileira, com a famosa catraca, que eu nunca tinha usado”, recordou com bom humor.
Para o segundo cultivo, na próxima primavera, ele antecipa que ajustará o momento da semeadura: “A idéia, para este ano, é fazer o plantio na época correta, que coincida com o plantio do milho convencional, para evitar que, no fim, ao sobrar só este milho, os pássaros se tornem predadores, como aconteceu”. Inspirado na experiência de agricultores que se dedicam ao milho crioulo em outras regiões do Brasil, ele observa que buscará selecionar – em seu caso, o milho branco. “A segunda idéia é ver se realmente é apto para uso de alimentação animal via silagem via secagem de grão”, completou.
Hoje, ainda residindo em Guarapuava mas dedicando boa parte do tempo à chácara, Chiaro diz ter se visto de novo diante de sua origem. “Sinto que volto à minha infância. Minha idéia é sentir-me vivo. Tem gente que diz: ‘pensar é viver’ – e concordo; ‘trabalhar é viver’ – e concordo. Mas pensar e viver na terra, e trabalhar na terra, é um viver em plenitude. Isso é o que me leva a sonhar em morar aqui”, concluiu.
Milho: cultura milenar com diversas utilizações
Conforme recordou o professor Marcelo Mendes, diretor da Fazenda-Escola do curso de Agronomia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), o milho é uma cultura milenar. “O histórico da cultura do milho, no mundo, data de relatos de mais de sete mil anos antes de Cristo. É uma planta originária do México”, disse em entrevista à REVISTA DO PRODUTOR RURAL. “O que mais se difere nessa planta de milho crioulo é ter uma base genética, em algumas situações, bem mais ampla, o que permite uma adaptação melhor às condições de adversidade do clima. Em contrapartida, não temos um fator importante das sementes híbridas, que é poder gerar, através de cruzamentos entre pais e mães, sementes híbridas F1. A geração de uma semente F1 possibilita um potencial produtivo maior”, pontuou. Mas o professor recordou também que o milho crioulo, assim como o híbrido, tem papel cultural importante na cozinha em várias partes do mundo, em bolos, tortilhas e pães: “O México é um país de referência nessa forma de utilização”. Para Marcelo Mendes, os vários tipos de milho permitem variedade em seu uso: “temos diferentes híbridos, diferentes variedades, que podem atender a diferentes nichos de mercado. O milho está cada vez mais diversificando, como forma de utilização”.